Mês: junho 2021
O ESG no OOH
OOH moderno é esse que impacta como meio e com propósito nas suas ações sustentáveis
Depois de um 2020 muito difícil para o OOH, em 2021 o meio emerge com mais força, inovação e propósito. Sim, propósito. Isso porque, além da propulsão visual às campanhas, a mídia exterior também entrega impacto ambiental, social e governamental, características que, possivelmente, a tornam o meio de mídia mais engajado com o ESG (tradução do inglês para Governança Ambiental, Social e Corporativa – refere-se aos três fatores centrais na medição da sustentabilidade e do impacto social de um investimento em uma empresa ou negócio).
Quando falamos da letra ‘E’ da sigla, de Environmental (ambiental), estamos nos referindo às práticas ambientais, ou seja, como a empresa procura reduzir o impacto ambiental com o seu negócio e se preocupa com questões como aquecimento global, emissão de carbono, eficiência energética, gestão de resíduos, poluição e recursos naturais.
Uma das questões ambientais relacionadas com o OOH, por exemplo, é a preocupação com o descarte das lonas (produto reciclável e matéria-prima do setor). Algumas empresas já vêm se responsabilizando pelo destino desse material, como a Favretto Painéis, que transforma os resíduos em vasos de flores e os distribui para as comunidades locais.
Com o mesmo viés de autorresponsabilidade, desde 2012, a Sinergy tem uma parceria firmada com a ONG Ciclo Reverso, que já qualificou 43 mulheres, vítimas de violência doméstica – de Gravataí e Viamão, no Rio Grande do Sul – a partir de programas de responsabilidade social, utilizando as lonas doadas pela empresa de OOH. Com o material, são produzidas bolsas, capas para tablets e notebooks, almofadas, lixeira para carro, estojos e porta-garrafas. Da massa que sobra dos resíduos, ainda são feitos vasos, porta-lápis e troféus. Cerca de 2 mil novos produtos são confeccionados por mês, sendo que parte da produção é absorvida pela própria Sinergy, que os utiliza como brindes ou doações a entidades assistenciais. Em 7 anos de parceria, mais de 30 toneladas de lona foram reutilizadas.
Já a letra ‘S’, de Social, é a parte que avalia como a empresa respeita seus parceiros: clientes, colaboradores e funcionários. Os temas envolvidos nessa pauta são inclusão e diversidade, direitos humanos, engajamento dos funcionários, privacidade e proteção de dados, políticas e relações de trabalho, relações com comunidades e treinamento da força de trabalho.
Em 2012, Emilia Rabello fundou o Outdoor Social, empresa em que o aspecto social vem como propósito da razão social, pois nasceu com o objetivo de levar campanhas publicitárias às comunidades, aumentar a renda dos moradores e gerar um forte impacto social. A partir da chegada do serviço de mídia, residências e estabelecimentos comerciais são transformados em pontos de fixação para placas publicitárias. A meta final é apresentar soluções completas de comunicação a empresas e órgãos públicos que querem atingir a população da periferia, mantendo o foco na economia positiva, sustentada em geração de renda e integração.
O projeto já beneficiou mais de 30 mil famílias de comunidades em todo o País. Ao todo, foram gerados mais de R$ 12 milhões em renda. Filiado ao Instituto Ethos, o Outdoor Social está presente em quase 11 mil pontos, em 23 estados e no Distrito Federal, com uma equipe direta e indireta de 25 mil pessoas.
Trazendo a aplicação da sigla para o momento pandêmico, é imperioso citar as empresas que estenderam a mão e seus ativos de mídia para os pequenos empresários, os que mais sentiram a dor da pandemia no balanço das empresas.
A Outdoormídia, nesse sentido, criou a campanha: “Pense grande, compre do pequeno”. Depois de um breve cadastro e avaliação, academias, restaurantes, salões de beleza e pequenos comércios ganharam um mês de veiculação gratuita nas telas de uma das empresas mais inovadoras de DOOH de Curitiba.
Em relação à Governança — última letra da sigla ESG —, por fim, o estudo mensura como a companhia adota as melhores práticas de gestão corporativa, como diversidade no conselho, ética e transparência, estrutura dos comitês de auditoria e fiscal, política de remuneração da alta administração e canal de denúncias.
Um dos cases a ser acompanhado nesse mercado é a Eletromidia, empresa que fez seu IPO e captou R$ 870 milhões. Para ela, o ‘G’, de Governança, está no dia a dia da gestão, mas o seu compromisso com o ESG está presente além da gestão do tripé ambiental, social e governança, mas também no produto.
A Estação Sustentável, da Vila Olímpia, na cidade de São Paulo, projeto batizado de Trilhos Verdes, recém-inaugurado em parceria com o Santander, é a materialização desse conceito. Além de trazer visibilidade à empresa, traz diferentes soluções sustentáveis, como: sistema de reaproveitamento de energia solar, captação da água da chuva, reuso de água de esgoto, bancos construídos a partir de materiais recicláveis e com carregadores para celular. O espaço conta ainda com painéis que informam os passageiros que circulam pela estação sobre a quantidade de água e energia que aquele espaço está economizando e também possui um admirável jardim vertical, que além de ajudar a amenizar a temperatura no local é irrigado com a água tratada proveniente dos banheiros da própria estação.
O contrato do projeto, entre o Santander e a Eletromidia, tem duração de cinco anos e envolve as instalações sustentáveis e todas as faces de mídia OOH presentes na Estação Vila Olímpia. A proposta do banco é utilizar essas peças publicitárias para comunicar o sobre o caráter sustentável das instalações e detalhar as mudanças que foram realizadas no local em prol da preservação ambiental e de recursos.
Para além do território nacional, o OOH tem players internacionais e empresas listadas na bolsa que operam no mercado brasileiro, as quais tratam o ESG como o novo normal. Marina Cançado, sócia da XP Inc. e Head de Sustainable Wealth na XP Private, relata: “Já que os investidores perceberam um mundo cada vez mais complexo e acelerado, é fundamental compreender como as empresas lidam com os fatores sociais e ambientais. Isso porque inúmeros estudos indicam que empresas com fortes atributos de sustentabilidade têm uma performance superior ao longo do tempo. Sem contar que cada vez mais cresce a consciência de que ao investir estamos moldando a realidade e, com isso, a busca por investimentos que gerem rentabilidade associada à impacto positivo no mundo [cresce]”. (fonte: Startse)
O OOH moderno é esse que impacta como meio e com propósito nas suas ações sustentáveis.
Por Leonardo Lazzarotto, CEO da Tailor Media e VP de Relações com o Mercado do Grupo OM
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I Love Haters
Os chatos sempre existiram, desde os primórdios da humanidade. Mas agora, na era da Santa Inquisição Digital, eles foram empoderados com teclados e câmeras, ganhando espaço infinito no universo paralelo das redes sociais.
E o pior é que esses “Torquemadas modernos”, que incendeiam a internet com agressões de todos os calões, são sustentados por uma legião de seguidores, que alimentam o discurso de ódio com curtidas e comentários de apoio sempre que a vítima é um herege distraído, navegando pelo lado oposto de seus credos. E o mesmo acontece na contramão. Se há uma lição que aprendemos nestes tempos de extrema polarização política, é que a intolerância é ambidestra.
Com as marcas, não é diferente. Estão sujeitas a toda sorte de linchamento virtual a qualquer momento, por qualquer deslize de conduta ou da comunicação. Se considerarmos que sites e fanpages são as sedes das empresas na internet, nada justificaria o comportamento de alguns consumidores que, frustrados com o desempenho de produtos ou com a atitude de diretores, invadem seu espaço digital para ofender e difamar. Difícil imaginar o mesmo na sede física da empresa, ou seja, alguém entrar chutando a porta, gritando, xingando e ainda cuspir no chão ao sair. Mas, protegidos pela tela do celular ou do computador, sabem que podem até perder a compostura, mas não perderão os dentes ao serem abordados por algum segurança. Será que essas mesmas pessoas falariam mal da Harley Davidson em um encontro de Hells Angels? Enfim, as pessoas precisam aprender que, independentemente do meio de expressão, a educação, aquela que recebemos em casa desde pequenos, vale para tudo.
Particularmente, acho positiva essa manifestação do lado negro da força no ambiente mercadológico. Sempre achei, desde quando caminhava pelo mais longínquo território do off-line, onde nasci e me criei como profissional. Acredito que a “polêmica” é o quinto “P” do marketing, quando bem administrada pode render uma exposição enorme para a mensagem, de forma espontânea e gratuita. Aprendi isso fazendo campanhas de prevenção da Aids para o Ministério da Saúde, nos idos de FHC. A questão era (e é) dogmática. Mesmo se fizéssemos um comercial apenas com a frase “Neste Carnaval, use camisinha” sobre fundo branco, haveria contestação de setores mais conservadores da sociedade. Por diversas vezes, lancei campanhas em clima de apedrejamento verbal, tendo que enfrentar fanáticos religiosos pessoalmente ou por telefone, sempre que dava uma entrevista no rádio ou na TV.
Já que esse tipo de reação era inevitável, fazíamos campanhas ainda mais ousadas e polêmicas, com filmes de grande impacto. Em uma ocasião, estávamos produzindo um comercial cuja ideia era mostrar o depoimento de uma garota que falava com alguém em especial da audiência: o parceiro desconhecido com o qual tinha mantido relações sexuais no último Carnaval, depois de beber um pouco além da conta. Ela fazia um alerta olhando direto para a câmera: “Se você é o cara com quem fiquei naquela noite, acho bom fazer o exame de HIV. Porque eu não sei se peguei ou se passei o vírus para você”. Pedimos para a produtora escolher uma boa atriz entre 20 e 25 anos, sem mais detalhes. Quando mostraram o teste de elenco, a melhor atriz era uma negra, que desempenhou o papel de maneira emocionante e por isso era a recomendação do diretor. Na mesma hora, alguns profissionais da agência já previram o problema.
Quando apresentamos ao cliente, começou a discussão. Diziam que pela primeira vez iriam mostrar alguém supostamente soropositivo na TV e o fato de ela ser negra iria sugerir algum tipo de preconceito. O imbróglio só terminou quando resumi a situação a uma questão muito simples: “Quer dizer que estamos excluindo a melhor atriz só pelo fato de ela ser negra?” O silêncio durou alguns segundos. Não havia resposta aceitável para esse tipo de injustiça e o comercial foi produzido e levado ao ar. No dia seguinte, recebemos uma notificação da Associação Brasileira dos Negros Progressistas, exigindo que fosse suspensa a veiculação. O caso foi parar em um debate na TV. Ainda nos camarins, o presidente da tal entidade veio a mim se justificando. Disse que achava o comercial excelente, mas que não podia deixar de aproveitar a oportunidade para discutir publicamente a questão do preconceito racial no país. Nesse caso, ganharam todos: a ONG, a atriz, a agência e a saúde pública. A campanha teve uma repercussão equivalente a 5 vezes o valor investido na mídia.
A diferença é que nos meios digitais a velocidade é instantânea. Participei de alguns embates, apanhei de vários haters até pegar o jeito e descobrir alguns truques, que sempre repasso para minhas equipes e alunos:
1 – Não assumir a culpa se tiver a convicção de não a possuir (e o contrário é ainda mais verdadeiro);
2 – Ser rápido nas respostas e não fugir de nenhuma questão;
3 – Embasar os argumentos com critérios técnicos ou estatísticos;
4 – Nunca apoiar quem estiver defendendo seu ponto de vista (passa a ideia de que ele ou ela é inteligente e os outros não);
5 – Jamais perder a paciência e a educação.
Grandes empresas já descobriram a força de uma boa polêmica para sua imagem de marca e utilizam isso em suas estratégias. O segredo é avaliar antes todas as possíveis reações e se preparar para elas, com respostas previamente estudadas e definidas. Mas algumas corporações ainda possuem um protocolo digital evasivo, escapista até. Em caso de qualquer problema nas redes sociais, a orientação é pedir desculpas e retirar o post do ar. Além de ser uma postura covarde, essa estratégia abre mão de todas as vantagens de uma discussão saudável sobre o tema, que pode ampliar a visibilidade da marca e a manifestação de seus defensores. Muitas vezes, abrem mão da razão ou de um ponto de vista defensável apenas para fugir da briga. Não me parece uma atitude sensata. Nem na internet, nem na vida.
Por Renato Cavalher, Head of Creative Strategy do Grupo OM